terapia da internet para o tratamento do isolamento social

huahuahua
esse título (não) é uma piada! mas, a vida é uma piada mesmo.
as pessoas adoecem por ficarem isoladas, sem conversar com outras pessoas. quanto mais isoladas ficam, mais doentes, mental e fisicamente, se tornam.
estou usando a terapia da internet com a minha mãe. uma pessoa super inteligente, bonita, jovem, solteira, com filhos crescidos o bastante pra cuidarem de si, mas que tem todos as doenças possíveis associadas a pouca qualidade dos relacionamentos íntimos e isolamento social.
eu estou morando em goiânia e ela em uberlândia, minha cidade natal. então a 'metodologia' é via messenger, claro. ela não tem o hábito de usar a internet, a não ser pra coisas muito simples, pra conferir coisas que viu na televisão; ou seja, nao usa a internet pra expandir as fronteiras de sua identidade, mas somente pra mantê-la como está.
pausa pra explicar por que a internet: sem exagero, todas as coisas do mundo estão na internet. e se você encontrar alguma coisa no mundo que não está documentado na rede ainda, tem a responsabilidade de compartilhá-la. internet hoje é um imenso banco de conhecimento humano, sobre todos os assuntos inimagináveis!
tem aqueles que ainda culpam a internet pelo isolamento e afastamento físico das pessoas. eu acho um equívoco esse raciocínio, além de atrazado, visto que essa preocupação é dos anos 90 e já foi respondida pela realidade. o nosso momento histórico-social promove o isolamento das pessoas, o esvaziamento das identidades. com muita freqëncia as pessoas simplesmente não sabem quem são!
a internet é uma das formas que as pessoas encontraram pra se manterem ligadas a humanidade no plano das idéias, das emoções e da comunicação, exercitanto potenciais humanos de uma outra forma, o que não substitui o contato presencial com as pessoas mas o complementa. hoje, quem não passou pela inclusão digital, sofre de uma espécie de "analfabetismo" porque não domina os meios do seu tempo pra acessar o conhecimento disponível.
há alguns anos, quando ainda era estudante, vi em um congresso de psicologia alguns terapeutas que estão se aventurando pelo atendimento clínico on-line. muitos psicólogos torceram o nariz e protestaram. outros, como eu, escutaram e puseram em suspenso, pra ter tempo de refletir sobre a proposta. estou cada vez mais convencida de que a interação on-line pode ser terapêutica e/ou educativa. mas a proposta que escutei era transferir o atendimento clínico pro meio digital, ou seja, muda-se o formato da comunicação.
o que estou fazendo é uma terapia da internet partidindo de questões como: as situações de auto-exposições on-line podem contribuir na elaboração da identidade? o contato com pessoas em ambientes virtuais, com informações, e com toda diversidade do humano presente na internet pode contribuir pra pessoas que levam uma vida isolada, limitada a poucos contatos sociais? a aposta é de que sim, e de que o processo possa ser transfirido pra situações da vida não-virtual. por questões éticas e óbvias vejo como um processo educativo, com consequências terapêuticas. é como um filho ensinar sua mãe a ler.
voltando a terapia da internet: o primeio exercício foi hoje! terminei e corri pro blog pra documentar!! há muito tempo, quando tive essa idéia, criamos um messenger e um orkut que ficaram abadonados. estavam totalmente vazios, com algumas fotos que eu adicionei quando criamos.
hoje ela reativou a conta do orkut e a tarefa era preencher o perfil. simples? de jeito nenhum. falar sobre si mesmo requer saber quem você é e ainda ponderar com a imagem que você quer passar aos outros.
fui dando a orientação técnica de como entrar na conta, como usar o orkut, e preencher o perfil, mas o conteúdo ela deveria pensar. dei algumas dicas, como: não mentir, omitir coisas negativas, e partir do pressuposto de que ela é uma mulher linda, interessante e que não tem vergonha de ser quem é! bem, ela aceitou e foi preenchendo..
e resistindo.. quase desistiu uma vez, momento em que tive que intervir para motivá-la e mostrar que realmente é difícil mudar, só lutando contra si mesmo, o tempo todo.
no ítem "interessado(a) em:" com as opções "amigos, companheiros para atividades, contados profissionais e namoro" ela disse que não estava interessada em nada! "- não, espere aí: pelo menos amigos, não?!" - intervi. e ela concordou.
bem, ainda faltam algumas coisas pra acabar esse primeiro exercício, mas valeu de início. combinamos de continuar; muitas outras idéias foram surgindo: acrescentar fotos, fazer busca de temas de seu interesse, fazer busca de vídeos, econtrar pessoas conhecidas, encontrar comunidades de seu interesse, comentar os tópicos da comunidade, conversar em salas de bate-papo com desconhecidos, enfim, muitas coisas pra aprender, muita potência transformadora.
somente o que definirá que essas coisas acontecerão ou não será a escolha pessoal. somos sujeitos e responsáveis por nossas escolhas e elas definem passo a passo a nossa identidade. se escolhermos o isolamento ou o contato com pessoas será nossa responsabilidade as consequências deste ou daquele ato.

Um comentário:

Carol disse...

Eu conheço um monte de gente com quem converso todos os dias pelo msn. Se conheço pessoalmente uma ou duas das centenas de criaturas que tem ali é muito. Tenho trocado a convivência social pelo msn. Eu passo os finais de semana trancada no quarto. Não conheço nem tenho a intenção de conhecer nenhum dos meus contatos e tenho cada vez mais me isolado das pessoas com quem convivo pessoalmente.Não acho q a internet tenha me ajudado a melhorar. Não fosse ela eu me obrigaria a enfrentar o medo e sair de casa.

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