Romantismo clichê e contradições pessoais

com 12 anos dizia a minha mãe que jamais iria me casar. de onde eu tirei isso? na adolescencia não sonhei com casamento, véu, grinalda, benção divina. talvez por não ser católica, e por ter sido espírita muito tempo. talvez por anos sem crer no casamento como algo capaz de trazer felicidade - seria consequência do fracasso do casamento de meus pais, como da maioria em geral? ou por não me permitir sonhar?
não me lembro se alguma vez fui pedida em namoro, talvez uma vez apenas, há alguns anos. em alguns namoros eu tomei essa iniciativa. aaai... esse nosso tempo.. em que "ficamos" e vamos vendo onde os relacionamentos chegam!... com dois pés atrás quanto a nos envolver por alguém. nesse jogo não podemos cobrar posição do outro quanto ao status do relacionamento, que em nossa fantasia pode se sentir pressionado e recuar. ou quando cobrados, sentimo-nos invadidos e indecisos.
não assumir compromissos dá a ilusória segurança de não dever ao outro, e a insegurança de não contar com o outro a não ser no presente, momento a momento, na intensidade em que conseguirmos nos entregar e que o outro ofertar, em meio a tantas incertezas.
pra completar a lista, nunca recebi flores, nunca usei aliança, ou recebi presentes que tenha marcado uma situação romântica. sem falar em presentes desastrosos, como o livro de auto-ajuda "amar pode dar certo"! (claro que o namoro não daria!)
poemas, recebi de pessoas especiais, vezes autorais, por e-mail e gostei muito. não em papel pois parece ultrapassado alguém dispor do seu tempo para, além de gastar palavras a outrem, ter que se preocupar com o papel, o envelope, a caligrafia, o selo, a postagem.
sempre fugi de clichês românticos como pra dizer ao outro "não preciso desses detalhes, que só gastam dinheiro, não faço questão, eu sou uma pessoa muito simples, que frescura é essa!" e com uma série de racionalizações e deboches para sustentar o argumento. por que será? será possível desconstruir esses símbolos que permeiam nossa forma de lidar com sentimentos amorosos ou nossa cultura nos molda ao ponto de não conseguirmos inovar muito quanto a formas de amar?
sou apaixonada, amo meu companheiro. na memória sua voz declarando seu amor por mim enquanto nos amamos dizendo coisas lindas, lindas, com a habilidade poética que possui. estas situações, talvez a mais romântico-eróticas que já vivi, me faz pensar sobre a minha forma de lidar com coisas que até hoje julguei como fúteis, mercadológicas, judaico-cristãs, convencionais.
até porque a comtradição me persegue! sempre me dediquei a criar presentes personalizados mirabolantes, caixas super preparadas, envelopes com variados formados, cartas beirando o ridículo... as tentativas de compor versos geravam dúvidas como "e agora? envio ou tá muito brega? envio! não envio!..." envio! claro, foram feitos pra isso e não pra entrarem pra literatura! ter vergonha de dizer o que sinto não posso. se a relação vale a pena, teremos sensibilidade para vivenciar o romantismo que quisermos.
ainda bem que a caminhada nos constrói, e não estaciono por muito tempo. assumir o compromisso de dividir a vida com alguém é uma troca que vale a pena, e descobri que viver só não é pra mim. gosto de estar apaixonada, de me sentir amada e de amar. gosto de mimar meu amado, de me declarar, de acariciá-lo, de presenteá-lo, de estar com ele simplesmente sentindo sua companhia. gosto de suas surpresas e de sua disposição em facilitar a minha vida com pequenos feitos do dia-a-dia. a presença do amor, da paixão e de semelhanças a compartilhar não abona responsabilidades, negociação, empatia, cuidado com outro e consigo próprio. continuo no exercício, vivenciar a felicidade.

Um comentário:

Dori Otoni disse...

Eu que sempre fui
Apaixonado
Eu que sempre sonhei
Com um amor pra vida inteira
Cá me encontro
Apaixonado
Por meu amor que se não pra vida inteira com a vida inteira pra amar.

e te afirmo, isso vale a pena!

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